Se o “boi sanfona”, aquele que engorda nas águas e emagrece na seca vai ficando no passado em muitas fazendas, aprender a tirar o melhor do gado nos períodos de transição ainda é pouco difundido. Já para muitos especialistas, trata-se de períodos de “manter o ganho de peso”.
É o caso do zootecnista José Neto, especialista em nutrição de ruminantes da Bigsal, marca pertencente a Trouw Nutrition, com forte atuação nas regiões Norte e no Mato Grosso.
Ele defende estratégias que “mantenham o ritmo de desenvolvimento e ganho de peso” durante todo o processo de produção.
1. Diferimento da pastagem, qualidade das pastagens, taxa de lotação – O diferimento da pastagem consiste em selecionar determinada área, geralmente no final do período chuvoso, retirando os animais para que o capim continue crescendo e fique reservado aos animais somente no período de seca. A estratégia também é conhecida como pastejo diferido ou vedação da pastagem ou produção de feno em pé.
Segundo Neto, vale destacar ainda a importância do “ajuste (redução) da taxa de lotação” ou o número de bovinos que permanecerão em determinada área. Utiliza-se como métrica a unidade animal correspondente ao peso de 450 kg, lembrando que nesse período de transição e na seca a qualidade da forragem tende a diminuir, exigindo suplementação.
2. Suplementação no período de transição e seca – No período de transição e seca, a qualidade das pastagens diminui muito, sendo necessário a adoção de suplementação com fonte proteica.
Para o especialista, uma excelente alternativa é a utilização do suplemento mineral proteinado, já que nesse momento, “é de extrema importância para que os bovinos continuem ganhando peso”.
Uma estratégia nutricional bem-feita pode proporcionar ganho de 2 a 4 arrobas no período. Importante ter em mente que o animal que perde peso na fazenda apresenta alto custo de produção, pois será necessário recuperar o peso perdido, o que ele só voltará a ganhar após adaptação, estendendo o tempo de permanência na propriedade.O suplemento mineral proteico auxilia devido à sua formulação com fonte de proteína e, em alguns produtos, aditivos melhoradores de desempenho, como monensina, salinomicina, narasina entre outros. Animais criados a pasto no período de transição e suplementados apenas com mineral, apresentam desempenho até 50% menor do que suplementados com proteico.
3. Recria intensiva a pasto ou confinada – A recria intensiva no pasto é um programa de suplementação para animais em fase de recria, período que se dá após a desmama com peso ideal recomendado de 210 kg até os 420 kg, quando o bovino estaria apto a iiniciar a fase de terminação ou engorda. Em modelos de alta eficiência, a recria tem duração de oito meses.
De forma intensiva no pasto, ela requer um alto fornecimento de suplementação. Espera-se que nessa estratégia seja alcançado ganho em torno de 700 gramas a 1 kg de peso vivo por dia, por animal. A recria intensiva a pasto socorre pela alta demanda de animais para engorda, seja pela própria propriedade ou pelo mercado de maneira geral.
Intensificar permite que mais animais fiquem aptos à terminação em menos tempo. O período destinado a recria, na maioria das vezes, é considerado difícil nas propriedades. Logo, adotar estratégias que encurtem esse tempo, aumentando a eficiência do sistema produtivo e a rentabilidade, é de grande importância.
A suplementação nesse modelo exige cuidado especial. O grande objetivo nessa fase de vida dos bovinos é que eles se desenvolvam, cresçam e coloquem carcaça. O foco deve ser o desenvolvimento muscular. Na seca, época de pastagens inferiores quanto a oferta de qualidade nutricional, os níveis de proteína do suplemento devem girar em torno de 25%.
Confinamento – O regime tem várias vantagens. Além de manter o gado engordando em um momento estratégico, a suplementação facilita a gestão alimentar e da água, fornecida por meio de dieta ajustada e balanceada. Com isso, o produtor obtém o melhor custo-benefício e os animais têm desempenho desejado.
Segundo Neto, o confinamento apresenta inúmeras vantagens em relação ao sistema de criação extensiva, como redução da idade do abate e das taxas de lotação das pastagens, além de melhor acabamento de carcaça. O custo de produção de um animal varia devido ao seu preço de compra, de nutrição e outros custos fixos, podendo representar, respectivamente, 70%, 20% e 10%.
Alguns manejos devem ser respeitados para o sucesso da operação: boa apartação selecionando animais com características mais próximas entre si, frequência de trato e horário, distribuição do trato, leitura de cocho, avaliação escore das fezes, curva de consumo, limpeza dos bebedouros, análise dos alimentos, ronda sanitária, treinamento da mão de obra e controle de dados.
O confinamento convencional proporciona ganhos de peso vivo na ordem de 1.500 a 1.650 g/dia e com rendimento de carcaça variando de 54% a 56%, além das vantagens secundárias dentro da operação. Para Neto, “o confinamento convencional é uma estratégia de utilização e intensificação dentro das propriedades para se ter ganhos zootécnicos e maior retorno financeiro”.